Uma questão de peito

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Heloísa Cestaria e Isadora Almeida

Marília começou a fazer a radioterapia como tratamento preventivo do câncer de mama. Foto: Tiago Silva

Embaixadora do Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados) e símbolo de beleza em Hollywood, Angelina Jolie sempre foi conhecida por sua postura atuante em causas humanitárias e por seus papéis multifacetados no cinema. Mas em maio, a atriz, de 37 anos, chocou o mundo ao expor outra triste realidade diante dos holofotes internacionais: a do câncer de mama. Em carta publicada no jornal The New York Times, a musa de Brad Pitt revelou ter se submetido a uma dupla mastectomia (retirada dos dois seios) para prevenir-se da doença, que matou sua mãe aos 56 anos. O caso reacendeu a discussão sobre as causas e formas de tratamento do tumor maligno mamário, que é hoje o segundo tipo mais incidente no Brasil e o mais comum entre as mulheres. Segundo dados do Inca (Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva), no ano passado o Brasil registrou 52.680 novos casos da doença. E a estimativa é de que o número de novas ocorrências bata a casa dos 60 mil em 2013.
Pesquisas mostram que esse aumento é tendência mundial, assim como o crescimento nas taxas de mortalidade proporcional da doença, que são altas tanto em países desenvolvidos quanto nas nações em desenvolvimento. Mas a comunidade científica ainda patina na busca por justificativas. Algumas respostas podem estar relacionadas às mudanças no estilo de vida feminino: hoje, por exemplo, as mulheres engravidam mais tarde e amamentam menos. Além disso, tendem a ser mais obesas; ingerem mais bebidas alcoólicas; fumam e consomem mais alimentos industrializados do que há 20 anos – todos fatores de risco.
Outras questões estão ligadas a aspectos hormonais, genéticos e de idade. O mastologista Wesley Pereira Andrade, do Núcleo de Mastologia do A.C. Camargo Cancer Center, com unidades na Capital e em Santo André, ressalta que mulheres que tiveram a primeira menstruação antes dos 12 anos; que entraram na menopausa tardiamente (após os 50 anos); que não têm filhos (ou engravidaram após os 30) e que passaram por terapia de reposição hormonal pós-menopausa por um longo período também apresentam maior propensão à doença. Mas discorda de outros integrantes da comunidade médica quanto aos perigos da pílula anticoncepcional: “Novos estudos apontam que ela tem baixa dosagem hormonal e, por isso, não mantém relação com o câncer. Antigamente, a quantidade de hormônios era muito maior”.
Também já se sabe que o histórico familiar é preponderante em boa parte das ocorrências, principalmente entre parentes de primeiro grau antes dos 50 anos. No caso de Angelina Jolie, a predisposição foi indicada pelo exame que pesquisa a existência de mutações nos genes BRCA1 e BRCA2. Segundo Andrade, ambos protegem as mamas e os ovários contra eventuais doenças. Quando o sistema apresenta falha, há maior predisposição aos tumores. Por isso, uma pessoa com mutação patogênica em um desses genes terá cinco vezes mais chances de vir a desenvolver câncer de mama. Foi o que verificou-se com a atriz, que possuía 87% de probabilidade de ter câncer mamário. Com a cirurgia preventiva de retirada dos dois seios, o risco despencou para 5%. Mas, segundo o mastologista, apenas 5% da população apresenta a mutação genética. Portanto, esse procedimento, além de ser muito caro, é recomendado a um grupo reduzido de pessoas. Também é importante ressaltar que a mutação nos BRCA 1 e 2 não significa que a pessoa obrigatoriamente desenvolverá o câncer, assim como sua ausência não exclui ninguém de desenvolvê-lo.
Uma alternativa mais simples, econômica e rápida para detectar a anomalia nos genes é o exame de saliva. “Antigamente, a única forma de pesquisar era por meio do hemograma, que apresentava custo mais elevado e cujo resultado demorava cerca de 40 dias para sair. Pela nova técnica, o diagnóstico sai em torno de 15 dias e os custos são mais acessíveis”, defende o diretor do IPGO (Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia), Arnaldo Cambiaghi.
A saliva contém grande número de células da mucosa bucal descamadas, das quais se pode extrair DNA para análise. Wesley Pereira Andrade, no entanto, afirma que este método é pouco eficaz e encarado com ressalvas pela comunidade médica: “O melhor é o exame de sangue; o de saliva não está bem aceito”.
Outra maneira de reduzir as chances é tomar uma medicação que bloqueia a ação dos hormônios femininos (estrógeno e progesterona), que podem funcionar como estimulantes para o crescimento do tumor. Mas, por se tratar de uma doença relativamente nova, a melhor maneira de prevenir ainda é realizando exames de rotina, como a mamografia e o ultrassom, que devem ser pedidos após consulta a um médico ginecologista ou mastologista.
Toda mulher acima de 40 anos deve procurar anualmente um profissional de Saúde para realizar o exame clínico das mamas. O autoexame também é importante, mas não suficiente para identificar o tumor em uma fase precoce, quando não se nota qualquer sintoma da doença. Em geral, a paciente só sente o nódulo quando ele já está grande, e só a mamografia pode detectar caroços com menos de 1 cm. Em estágio avançado, geralmente a partir dos 4 cm, é possível perceber algumas mudanças no corpo, como inchaço em parte do seio; irritação ou irregularidades na pele; dor ou inversão do mamilo (quando ele fica para dentro); vermelhidão ou descamação do bico; secreção (que não seja leite materno) e caroços nas mamas ou nas axilas. Nódulos indolores, duros e irregulares apresentam maior probabilidade de serem malignos, mas também há tumores macios e arredondados. O imprescindível é ir ao médico para detectar a doença o quanto antes.

PREVENÇÃO


De acordo com Andrade, uma em cada 12 mulheres terá câncer de mama ao longo da vida, o que representa 8% da população feminina. A chance de cura é de 80%, mas é possível elevar este percentual por meio de exames preventivos. “Quando o nódulo é detectado com menos de 1 cm, a chance de cura chega a 95%”, diz o mastologista. Já em estágios avançados da doença, a possibilidade de cura cai para 40% a 50%. Daí a importância da mamografia, que deve ser realizada com intervalo máx



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