Encantos do Príncipe

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Miriam Gimenes

Em sua casa, Ronnie é cercado pelos pequenos prazeres

Barack Obama, Oprah Winfrey, Neymar e Cher circulam diariamente na casa de Ronnie Von. A recém-construída mansão, de 1.000 m², projetada pelo seu irmão, o arquiteto Tony Nogueira, tem lugar cativo para estas celebridades, as ‘queridinhas’ do cantor e apresentador. A elas Ronnie reserva um espaço de luxo: o galinheiro. Sim, ele ostenta com orgulho poleiros em meio ao Morumbi. Das galinhas – algumas das raças blue brahma, polonesa camurça, rhodia e garnisé –, só consome os ovos, que ele considera iguarias de alta gastronomia. “Meus valores aqui nesta casa são aqueles que não aparecem. Minhas galinhas são as coisas mais lindas do mundo.”

O apreço pelas aves e por seu produto tem uma explicação: houve época em que Ronaldo Lindenberg Von Schilgem Cintra Nogueira, hoje com 69 anos, só tinha ovos, pão francês e mortadela para comer. Nascido em família abastada, ele deixou a Cidade Maravilhosa para tentar a carreira de cantor em São Paulo e alocou-se em um hotel “pouco recomendável” da atual Cracolândia, na região da Luz. De início, não tinha o apoio do pai, diplomata, para ingressar na carreira artística. “O menino de terninho italiano, todo arrumadinho, de carro sport, veio para cá (São Paulo), e se um caminhão batesse nele, se espatifaria, de tão duro que estava”, lembra Ronnie. Acostumado a um menu sofisticado, o que lhe restava eram as opções do botequim da esquina.

É por isso que Ronnie Von não admitiu, no início da carreira, ser considerado um ‘filhinho de papai’ que estaria roubando o lugar dos outros. Sofreu preconceito às avessas. Naquela época, a origem humilde agregava pontos ao talento de quem se arriscava na vida artística. “(Se fosse pobre) você fazia sucesso e era, de fato, o máximo. Se tivesse uma origem classe média para cima, era visto com maus olhos.” Só que Ronnie conheceu os dois lados. Tirou o diploma de Economia, entregou nas mãos da família e foi seguir seu sonho sem suporte financeiro. Tornou-se ‘príncipe’, mas construiu seu castelo com as próprias mãos. Um self made man, em suas palavras.

É nesta nobre residência, cercado de pequenos prazeres que para ele são imensos, que Ronnie – apresentador do Todo Seu, da TV Gazeta –, sente-se pleno. Vive ali com a mulher e amiga de infância, Cristina Von, com quem está há quase 30 anos, cultivando pomar e orquídeas; recebendo amigos, filhos e netos. E foi no refúgio deste lar que ele abriu as portas para conversar com a equipe da Dia-a-Dia, pouco antes de sair para trabalhar, e falou sobre suas conquistas, sexo, família e, principalmente, amor. Afinal, para ele, o essencial é invisível aos olhos.

TODO SEU
Há quase uma década à frente do programa da TV Gazeta Todo Seu, Ronnie comemora a liberdade que tem na emissora, onde já apresentou cerca de 2.500 programas. O segredo do sucesso diário? “É como receber amigos na minha casa: somos uma família.” A experiência também conta, e muito. Sua estreia como apresentador foi em 1966, na TV Record, com O Pequeno Mundo de Ronnie Von – onde lançou os Mutantes, Jerry Adriani, Gal Costa, entre outros.

Mesmo gabaritado com o formato, nem de longe acreditava que o Todo Seu persistiria por mais de quatro anos. Não só durou como Ronnie já recebeu 14 convites para mudar de emissora – oito deles de um só canal. Declinou de todos. “O programa que eu faço é o sonho dourado de qualquer apresentador que pretenda seguir de forma ortodoxa na televisão. Esse é um país pobre, inculto, desinformado. A TV é a maior escola do brasileiro. E eu tenho essa consciência. Devemos ter em mente o comprometimento com a cultura nacional e a preocupação com o social”, justifica.

A telinha, para ele, está seguindo um caminho de absoluto equívoco. Audiência pela audiência. “Tenho medo de sair da Gazeta, onde consigo fazer esse tipo de programa, para apresentar desfile de travestis, pornografia, escatologia, sangue.” Dinheiro não é tudo. E a satisfação de entrevistar pessoas como Bibi Ferreira, Laura Cardoso, Lygia Fagundes Telles, João Carlos Martins e Marília Gabriela não tem preço, assim como a preservação de uma carreira virtuosa.

O cantor sofreu preconceito às avessas

PRÍNCIPE, O MITO
O título de nobreza conferido a Ronnie surgiu com uma sugestão de Hebe Camargo. Durante apresentação dele no programa da loura, o então cantor disse que havia sido cadete da Aeronáutica e ela o comparou a Saint-Exupéry, autor de O Pequeno Príncipe, lançando assim a ideia, acatada de imediato pelo público. Habemus príncipe. “Este é um país rotulador. Hoje, nada mais me incomoda. Mas no começo sim.”

Com a alcunha, reforçou-se o mito de que era ‘filhinho de papai’, metrossexual, vaidoso. Só que ‘tio Ronnie’ não é nada disso. Não passa um creme sequer. Quando novo, lavava as madeixas compridas com sabonete. Para cortar as unhas, precisa levar chamada da mulher. Cortar o cabelo, então, só quando o hair stylist Jassa – o mesmo de Silvio Santos – lhe telefona dizendo que seu corte está parecendo um capacete e, se não for logo ao salão, cobrará o dobro (em números, R$ 400). “Assim, dói no bolso e eu aprendo, ele diz.” Mas isso não impede Ronnie de andar alinhado, com terno bem cortado e sempre em ordem.

Também usufrui de seu quintal, onde joga tênis e caminha todas as manhãs. “Outro exercício que faço muito é levantamento de garfo e copo”, brinca. Sommelier e amante de gastronomia, Ronnie confessa que às vezes exagera, mas não é de fazer dietas mirabolantes. “Sou casado com uma moça gordinha, bem acima do peso. Não é que ela coma muito, não. O problema é que ela come com culpa”, diz o apresentador, que nunca sente remorso por render-se aos prazeres da boa mesa, principalmente quando o prato em questão é churrasco.

Considera-se um homem sofisticado? “Você jamais, ao meu lado, vai botar a mão em uma maçaneta, porque eu não vou deixar. Tenho de abrir a porta pa



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