Pazes com a natureza

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Isadora Almeida

 

O Viveiro Central tem o objetivo de ensinar aves de diversas espécies a voar. Foto: Luiz Henrique Ellias

Com a assinatura do Protocolo de Kyoto, em 1999, empresas e governos passaram a correr atrás de mecanismos que compensem suas emissões de gases do efeito estufa. Desde então, a venda de créditos de carbono transformou-se em um rentável negócio, assim como o selo Carbon Free, atestando que determinada atividade teve suas emissões de poluentes inventariadas e compensadas por meio do restauro florestal de Mata Atlântica. Mas esta não é a única forma de industriários e gestores públicos redimirem seus pecados contra a natureza. No Pantanal, a família do empresário Marco Mammana, 60 anos, desenvolveu uma maneira criativa de ganhar dinheiro colaborando com a preservação do planeta e ainda ajudando outros empresários a fazer as pazes com o meio ambiente. Trata-se da Green Farm CO² Free, fazenda localizada no município de Itaquiraí, no Mato Grosso do Sul, que presta serviços ambientais abertos ao subsídio de cotistas. Além de inédito, o projeto é considerado um dos mais completos do mundo, oferecendo sete atividades sustentáveis em um espaço de 4.600 hectares.

A área preservada abrange 4.000 hectares da propriedade, que é cercada pelos rios  Paraná e Amambai. Segundo Marco, a iniciativa de preservar o ecossistema se deu com o nascimento de sua neta, Isabela, hoje com 6 anos. “De uns dez anos para cá, comecei a me preocupar com os acidentes climáticos, que têm causado muitas vítimas. Fiquei imaginando que planeta minha neta encontrará quando tiver a minha idade.”
Mammana optou, então, por criar a Green Farm com a ideia de formar uma empresa compensada financeiramente por sócios, uma espécie de clube. Os adeptos pagam a mensalidade para fazer parte do empreendimento e ganhar o selo sustentável para sua empresa, além de obter outras vantagens, como compensação de carbono e visitas à fazenda. As cotas de participação (são apenas 600), custam de R$ 5.833,32 a R$ 174.999,60, conforme a categoria do plano. “Não faço venda individual de compensação de carbono. Isso está incluído no pacote ecossistêmico”, ressalta.
Éderson Zanetti, engenheiro florestal da empresa, estima que a quantidade de carbono estocado desde 2008 gira em torno 240 mil toneladas. “Atualmente, os preços têm variado de US$ 0,50 a US$ 45 por tonelada”, explica. O engenheiro também conta que a Green Farm tem cerca de 75% de sua área coberta por florestas nativas e tem reflorestado o restante ao longo dos anos. “Atualmente, estamos estudando uma proposta de reflorestamento misto com Eucalyptus e mais 100 espécies nativas para chegar a 100% de área coberta por florestas.”
Inicialmente, Mammana pretendia criar uma empresa privada de prestação de serviços ambientais apenas com a neutralização de carbono. “Mas como o mercado de Kyoto baixou muito o preço da tonelada de nitrogênio para a compensação de CO² nas bolsas internacionais, chegamos à conclusão de que não daria para sobreviver só com a neutralização de carbono”, revela o empresário. Já que a subsistência não era possível, a família instituiu também um criadouro de peixes - pacu e piauvuçú - para a soltura nos rios. Segundo Mammana, mais de 1 milhão de peixes foram soltos no ano passado. 
Alguns animais apreendidos não poderão voltar a viver em seu habitat natural. Foto: Luiz Henrique Ellias
E o número de atividades foi aumentando com os apoios da Polícia Ambiental, do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e do Instituto Chico Mendes. Elaborou-se o Criatório Conservacionista de Animais Silvestres, onde é realizada a criação, reprodução, tratamento e soltura de espécies em risco de extinção, assim como a manutenção de espécies impossibilitadas de serem reintroduzidas na natureza. Onça-pintada, macacos, mutum de penacho, tucanos e araras figuram a lista. Outro objetivo é cuidar de animais apreendidos por tráfego ou posse ilegal. “O valor movimentado pelo tráfico de animais é muito grande, está em segundo lugar, depois das drogas. É uma coisa que me assustou. Não imaginava que fosse tanto”, conta Mammana.
Com a fauna garantida, a família passou a se preocupar com a flora. A primeira iniciativa foi criar um banco de germoplasma. “Uma coisa é simplesmente multiplicar uma espécie, que é a função de um viveiro. A gente entra na mata, escolhe a árvore mais sadia daquela espécie e colhe a semente, multiplicando o exemplar mais bonito do Parque Nacional da Ilha Grande ou da própria Green Farm. Essa é a diferença”, explica o proprietário, lembrando que, além de fazer doações de mudas, eles realizam o plantio e também oferecem ao cotista a nomeação de uma área de 46 mil metros quadrados com a demarcação geodésica. Para se ter ideia da dimensão, vale lembrar que um campo oficial de futebol mede 4.136 m².Muitas aves apreendidas são levadas à Green Farm. E logo construiu-se o Viveiro Central, espaço dedicado a aves adultas, recebidas por apreensão, e espécies nascidas no criadouro que deverão aprender a voar para depois serem introduzidas na natureza.
Com todas as atividades completas, o Ministério Público entrou em contato com a fazenda para que fossem promovidas visitas técnicas. A Green Farm começou a receber escolas que pudessem ter aulas práticas e teóricas em um dia de visita. Para isso, foi requisitada uma embarcação para o transporte. Mammana conta que construíram uma balsa totalmente ecológica, para 40 pessoas, com estação de tratamento de água difusa, placas solares e que funciona a biodiesel. Também foi erguido um recinto e vários profissionais foram contratados para dar palestras.
Segundo Mammana, sua dedicação ao empreendimento reflete-se na infraestrutura e R$ 12 milhões que aplicou, desde 2008, para tornar realidade o ideal de fazenda sustentável. Seu filho, Marcelo Carneiro Mammana, 27, o ajuda a coordenar os negócios da &n


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