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Aggnes Franco

Denis de Marchi e Simone Jacob se encontraram na mesma sala de bate papo. Foto: Celso Luiz

Se você pensa que quem começa um relacionamento pela internet é carente ou antissocial, saiba que não está sozinho. O ilustrador Denis de Marchi, 35 anos, de São Caetano, também acreditava nisso antes de conhecer sua mulher, a professora Simone Jacob, 39, em uma sala de bate-papo, 13 anos atrás. “Me apaixonar por alguém pelo computador? Que coisa mais nerd!”, pensava ele na época. Mas percebeu que o amor pode bater à porta da ‘sala’ sem avisar. 

A socióloga Cris Celestano, autora do livro Namoro na Rede – Será Que Dá Certo?, acredita que a internet pode ser aliada para namoros bem-sucedidos, desde que não seja o único recurso - o que tenderia a criar indivíduos isolados. 
Talvez resida aí o segredo do sucesso do namoro entre Denis e Simone. “A intenção não era encontrar um parceiro, até porque nós namorávamos com outras pessoas. O destaque é a conversa. Tudo começa com gosto musical, política, de um jeito divertido. Logo se está conhecendo os sonhos e anseios do outro. É diferente de uma balada, onde você inevitavelmente se interessa pela carinha bonita. Na internet, você conhece a pessoa ‘antes’ do cara a cara”, diz Denis. 
Simone concorda e conta que ambos começaram a usar o chat porque seus antigos parceiros faziam o mesmo. “Não fui procurar nada. Só queria conhecer aquele universo e entender por que eu era trocada por uma tela fria” - um dos motivos pelos quais o ex-noivo a deixava de lado. 
O que ele não podia imaginar é que ela conheceria seu futuro marido ali. “No começo fui bem relutante, e Denis também. Sumi da internet por um tempo, assim como ele. Eu ainda namorava e sou meio ‘careta’. Não entendia muito bem meus sentimentos. Como eu poderia me sentir atraída, empática, por uma pessoa que eu nunca tinha visto antes?” 
Fernando Gomes Pinto, neurocirurgião do Hospital das Clínicas de São Paulo, afirma que o que acontece no cérebro de uma pessoa que vê um parceiro atraente na tela é diferente do que ocorre pessoalmente. “Cheiro, tato, paladar não podem de fato ser acionados no contato pela internet. Como apenas visão e audição são utilizadas, a imaginação fica muito mais enriquecida. Resultado: Pode-se apaixonar por uma mistura de meias percepções e muito desejo imaginário”. 
Foi por causa desse receio, de ‘levar gato por lebre’, que Denis e Simone relutaram a princípio. Com o passar do tempo, o casal rompeu com seus antigos parceiros, embora não revelasse a paixão que começava a tomar conta de ambos. “Eu pensava: ‘Ei, calma aí, para de fantasiar! A garota está há 360 quilômetros (Morro Alto, SP), é concursada, e eu tenho a vida feita aqui. Como seria isso? Mas um dia aconteceu um encontro nacional de parte da turma, e eu nem tinha sido convidado (risos). Fiz um malabarismo e fui. Foi a primeira vez que nos encontramos, e aí vi que o negócio era sério.” O casal passou dois meses em viagens. Tudo muito cansativo. Até que Simone aproveitou uma licença e veio para São Caetano, na casa da tia. Pouco depois, vieram os pais dela. “E aqui estamos”, conclui Denis. 
Eduardo e Ana Varjão são casados há 12 anos e têm um filho de 6, Enzo. Foto: Celso Luiz
Os dois são apenas um dos cerca de dez casais que se formaram na mesma sala de bate-papo. Ana e Eduardo Varjão (ela com 35 anos, gerente de desenvolvimento humano, e ele com 39, técnico de compras) são casados há 12 anos e têm um filho de 6, Enzo. “Eduardo e um amigo estavam conversando sobre seus filhos. Achei o máximo dois homens em um chat falando sobre filhos e me meti na conversa. Foi como conheci meu marido”, afirma Ana, e completa: “Companheirismo e amizade são fundamentais, e a internet proporciona isso mais do que tudo”. 
Daniel Pícaro, antropólogo e doutorando em Ciências Sociais pela Universidade Federal de São Carlos, afirma que este tipo de interação é  “como uma espécie de equivalente contemporâneo do que se passava com a Ópera na Europa do século 19, quando as pessoas iam ao espetáculo mais para se ver do que pelo espetáculo propriamente dito”.  
Quando questionado sobre o que manteve esses casais juntos, Denis se antecipa: “Não sei se essa solidez viria de relações com convivência ‘forçada’, como trabalho, porque na internet a atração vem pela empatia”. 
O psicólogo e pedagogo Eduardo di Giorgio, no entanto, revela ter pouco otimismo quanto aos efeitos de longo prazo. “Na internet não precisamos lidar com os defeitos, medos, apesar de serem inerentes ao ser humano. Assim, perdemos a habilidade de lidar com falhas, limitações e precisamos saber conviver com isso. Tenho um paciente adolescente que namora virtualmente. Sofre de crises de ansiedade e de identidade, já que, apesar de nunca ter tido relações sexuais fisicamente, sempre pratica on-line com a namorada, que nunca tocou de fato.” 
Mas Denis e Simone são prova de que, quando as barreiras do espaço virtual são transpostas, a relação pode, sim, evoluir para estágios de maior intimidade sem perder o encantamento do primeiro contato virtual. “A gente faz parte de uma geração que desbravou isso tudo. Cruzamos o início da internet no Brasil, a era chat, ICQ, MSN, Orkut, e estamos aqui, no Facebook, vendo os filhos (dos amigos) crescerem”, declara Denis.
 
Sonia Stangari e Alexandre Prado venceram a timidez através do site de relacionamentos. Foto: Celso Luiz
PAR PERFEITO
A professora de ioga Sonia Stangari, 53, de São Bernardo, e o analista de sistemas Alexandre Burian Prado, 58, de Ribeirão Pires, s&ati


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