Rainha do tecnobrega

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Eliane de Souza

Gaby Amarantos deve se apresentar em Nova York, Londres e no Festival de Cannes. Foto: Junior Franch
Um encontro inusitado. Gabriela Amaral dos Santos concedeu entrevista à Dia-a-Dia momentos antes de subir ao palco do Sesc Pinheiros, na Capital, ao lado da igualmente emblemática Elza Soares. Chegou direto da gravação do programa de Ana Hickmann na Record. Com batom vermelho, calça jeans e blazer preto, nem parecia a mulher que incorpora figuras mitológicas com adereços que lhe renderam o apelido de Beyoncé do Pará. Mas não demora muito para se transformar na extravagante Gaby Amarantos, com tomara que caia vermelho, saia de plumas e salto altíssimo. A mulher de silhueta curvilínea ressaltada por macacão coladíssimo surge mais delgada. Por questões de saúde, precisou seguir dieta restrita, e apreciou o jantar no camarim durante a entrevista: canja com milho cozido. 
A diva do tecnobrega não tem pretensões de se igualar às cantoras magérrimas, mas a perda de peso foi necessária, pois o refluxo gástrico estava afetando sua voz. As formas arredondadas que levaram gordinhas de todo o Brasil a se identificar com a atitude e o guarda-roupas da cantora, no entanto, permanecem de forma mais sutil. 
Embora tenha apenas um CD gravado, Gaby Amarantos dispensa apresentações. Não à toa, foi eleita por revista semanal como uma das 100 personalidades mais influentes do Brasil. Já ganhou prêmios da MTV, participou do quadro Dança dos Famosos no Domingão do Faustão e deu voz à abertura da novela global Cheias de Charme, com o hit Ex-Mai Love.
Atualmente, tem feito cerca de 20 shows por mês – número que costuma crescer no Carnaval e em julho. Dose extra de glamour para este mês, quando deverá se apresentar em Nova York (Estados Unidos), Londres (Inglaterra) e no Festival de Cannes, na França. 
Turnês internacionais, aliás, sempre fizeram parte da rotina de Gaby. O primeiro show fora do País, do CD Treme, foi de participação com outros artistas pela América Latina. E ela promete levar o tecnobrega para o Velho Mundo com o recente lançamento do DVD Live in Jurunas. O show - gravado há dois anos em frente à casa dela no bairro da periferia de Belém do Pará, onde ainda vive – contou com ajuda da empresária e sócia Priscila Brasil e com a participação do cineasta francês Vincent Moon. Para Gaby, foi o momento mais incrível de sua carreira, com direito a debate sobre a música da periferia e twitcam para que fãs e amigos pudessem acompanhar tudo pela internet. “Foi uma forma de devolver o que a comunidade fez por mim, e apresentar o resultado do que conseguimos fazer juntos, “diz Gaby, que ainda mora no Jurunas, na mesma casa, e não se intimida com o assédio. “É o bairro onde eu nasci. Não tenho por que ter medo. Assim como todo mundo ajudou a gravar, todos assistiram. Tive apenas três dias para montar o palco, e todo mundo ajudou no processo.” 
Apesar do assédio crescente – já puxaram seu cabelo e rasgaram suas roupas –, Gaby não tem seguranças. Mas garante que sua forma de lidar com o apelo dos fãs é muito tranquila. “Quando alguém vem e eu vejo que a pessoa está exaltada, peço calma e chamo para fazer uma foto comigo. Vejo que muitos artistas criam situações sem necessidade. Por exemplo, já fui fazer gravações com 30 artistas, dos mais tops do País, e chegou um com segurança. Como assim? Em um ambiente onde só havia artistas, a celebridade achava mesmo que seria assediada? Alô!”, satiriza. “Tenho preguiça dessas coisas. Sou antidiva, antiestrelismos. Essa coisa de fama; isso tudo é muito supérfluo. O sucesso da carreira depende realmente de quem entende a identidade musical e visual do seu trabalho. Estes são os que vão lhe acompanhar para sempre.” 
Dona de hábitos simples, a rainha do tecnobrega iniciou carreira cantando no coral da Paróquia de Santa Terezinha do Menino Jesus - de onde foi convidada a se retirar por chamar mais a atenção dos fiéis do que a missa propriamente dita. Em Belém, gosta mesmo é de comer açaí com peixe frito na feira popular do Mercado Ver-o-Peso, cartão-postal da capital paraense, sempre repleto de barracas de ervas, frutas e garrafadas típicas do Norte. 
O minimalismo não faz parte de seu guarda-roupas. Muito menos de sua atitude em palco. “Sou bem rica, ao ponto de ser dona do meu nariz, de não ter nenhum empresário comendo toda a minha grana. Os lucros do nosso trabalho são para serem reinvestidos na carreira. Mas a minha noção de riqueza artística é bem diferente. Não preciso morar em Alphaville. Sou feliz morando no Jurunas. Ninguém sabe da minha conta bancária, mas eu vivo muito bem, proporciono tudo o que a minha família precisa, dou valor a coisas pequenas e continuo sendo a mesma pessoa que come churrasquinho de gato na esquina; que bota piscina de plástico no meio da rua e pula com os amigos; que faz pagode na rua de casa e  que vai na esquina comprar pão”, afirma a cantora, ressaltando que sua inspiração para viver a fama de forma desmistificada deve-se a artistas como Zeca Pagodinho.
Para Gaby, não é preciso correr atrás de luxos porque sua carreira já lhe proporciona boas doses de glamour: tem quem cuide de seus figurinos, viaja bastante, fica em bons hotéis, possui bons carros e pode conhecer outras culturas. “Ter alguém para cuidar das minhas roupas, me montar, me deixar linda, é um luxo”, diz sorrindo para o maquiador e figurinista Diogo Carneiro, criador do extravagante vestido de plumas vermelhas que aparece nas fotos desta edição. “Tenho muito medo de criar um padrão de vida, torná-lo absurdamente alto e não conseguir me manter. Gosto da vida que tenho porque sei que vou ser feliz para sempre. Mesmo que esteja viajando, sei que sempre terei a minha casinha. Não sou de ostentar. Muito luxo me incomoda. Sou feliz por tudo o que conquistei e tenho certeza de que vou conquistar ainda mais para poder dividir com quem está do meu lado.”
Com todo o rebolado e ousadia de Gaby, fica difícil acreditar que ela já quis ser freira exatamente por ter desejo de fazer voto de pobreza e ajudar o próximo. Vocação é o que não lhe falta, garante. Além de contribuir com entidades sociais, ela está desenhando projeto que prevê a criação de uma escola de música voltada à profissionalização de jovens carentes. Revela que tenta ser uma pessoa politizada, mas ainda não se tornou tão


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