Luzes, câmera...ação!

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Raquel de Medeiros

Ele é ator, apresentador e diretor. Mas, na verdade, Márcio Garcia é especialista em outra coisa: reinventar-se. Em vez de se deixar amargar com críticas da mídia ou com desgastes naturais da profissão, logo encontra novo caminho e se dedica com o mesmo entusiasmo de antes, sem dramas. 

 
Aliás, drama ele deixa para as telas. Márcio é o diretor do filme Angie, que acaba de estrear nas principais salas de cinema em todo o país. E não é só isso. Ele dirigiu ninguém menos que o ator cubano Andy Garcia e a atriz americana Juliette Lewis, além de Camilla Belle. Um desafio e tanto para quem só tem três filmes no currículo e que Márcio encarou corajosamente. “Pensei ‘puta, vou estar com Juliett Lewis, Andy Garcia, será que vai me dar um pânico na hora?’ Na leitura que pude desmistificar. Encontrávamos três vezes por semana, com o elenco inteiro. E foi aí que ficamos íntimos. O Andy Garcia é um cara como a gente e que, se estivesse aqui, ia estar aí sentado e não ia estar emanando nenhum tipo de luz (risos).”
 
Com iniciativa e força de vontade, Márcio Garcia volta à cena como diretor do filme Angie, que tem Andy Garcia no elenco. Foto: Thiago Justo
 
 
Sem estrelismo, Márcio permitiu que os atores interagissem e modificassem detalhes de cenas. “Fizemos muita leitura onde os atores, sugeriram, mexeram, riscaram, e isso é o barato do filme independente, o envolvimento.”
 
Outro desafio foi o tempo, muito curto. As cenas foram gravadas em apenas 20 dias, algumas, produzidas num take só. “Não tinha tempo para nada. Então, você tem que abrir mão de todos os seus desejos como pessoa e como diretor. A gente está lá para contar a história.”
 
Como qualquer diretor, Márcio estava ansioso pela repercussão do público. No dia da entrevista, realizada no restaurante Le Manju, em São Paulo - um dia após a pré-estreia - o diretor pediu que comprassem um jornal pra ele, queria ver se havia saído críticas sobre o filme. “O que a gente mais espera é a reação do público.”
 
Ventos de mudança
 
O primeiro contato que Márcio teve com o cinema foi totalmente casual. O curta Predileção foi um filme que ele gravou como brincadeira com alguns amigos. “Não tinha menor pretensão que repercutisse do jeito que foi. Começou com uma brincadeira, fizemos uma decupagem de cenas de ação e resolvi fazer um roteiro de ultima hora.”
 
Porém, o produtor Uri Singer acreditou no trabalho e resolveu inscrever o curta – filmado em apenas 7 dias - em vários festivais e o retorno foi superpositivo. “Começaram vir muitos prêmios e indicações e foi, então, que surgiu o primeiro convite para um longa”, diz.
E Márcio está ficando bom em correr contra o tempo. O primeiro longa que ele gravou, o Bed and Breakfeast - que no Brasil ganhou o nome de Amor Por Acaso-, foi filmado em apenas 15 dias. E o novo Angie em 20 dias. “Tudo muito rápido, mas filme independente tem orçamento pequeno, a diária dessa turma é muito cara, então, ou era assim ou não era”, explica.
 
 
Elenco estrangeiro
 
O ator fez participação especialem A Grande Família. Foto: Divulgação Globo

 

Não foi tão simples conseguir o elenco estrelado para o filme. A ideia de fechar com atores estrangeiros foi de Singer. E sobrou pra Márcio convencê-los de que seria um bom trabalho. Com Andy Garcia foram três dias de conversa pelo skype. “Foi o maior interrogatório, até ele pegar confiança, porque eu não tinha um currículo vasto a ponto de ele pensar ‘poxa, é um grande diretor, vou fazer’. Ele me questionou porque comecei com ação, depois passei pra comédia romântica e agora drama e eu tive que me virar para responder.”
 
Pouco a pouco, Márcio conquista o próprio espaço. Buscou referências na própria experiência pra poder tomar decisões como diretor. “Vi o que funcionou comigo e o que não funcionou, o que funcionou com um colega e o que não funcionou, como por exemplo o diretor autoritário, babaca, prepotente, grosso, mal educado ou o diretor muito gentil, muito legal. Tem que ter um meio termo.”
 
O bom-humor, no entanto, ele não abandona. “Eu gosto de dar bom dia pra faxineira, pro cara do cafezinho. É importante todo mundo estar com a vibe muito positiva, porque aquela energia é que vai para a tela. Mas não quero ser igual a ninguém, tenho que encontrar a minha fórmula, também não quero criar um gênero, quero contar uma história.”
 
Juliette Lewis foi o grande desafio para o diretor. “Ela não dá para dirigir, é doida pra cacete, vai na dela mesmo e pronto.” Humilde e consciente de que é um iniciante, o diretor acredita que com mais experiência poderá trabalhar com mais tranquilidade. “Com certeza , não há dúvida, que com mais experiência será muito mais fácil.”
 
Com Camilla ele diz que teve que ser mais duro para conseguir extrair emoção da atriz. “Ela estava muito confortável e eu precisava gerar um desconforto nela, chamei ela num canto e tive que tocar na ferida. Você tem que dizer que não está bom e apelar, não vou entrar nesse mérito porque é muito pessoal, mas você tem que cutucar a ferida da pessoa para a pessoa sangrar.”
 
O resultado foi satisfatório. Talvez Angie não seja o filme mais aclamado pela crítica, mas tem seus méritos. Muitos concordam que foi bem dirigido e interpretado.  Talvez por essa forma diferente de Márcio ‘ser diretor’. Tanto que Andy Garcia fez questão de estar presente na festa da equipe, coisa que não costuma fazer, segundo Márcio. “A mulher dele chegou para mim e disse que queria me conhecer pessoalmente, porque ele não saía nem pra ir no aniversário dele, então, queria ver quem era esse diretor brasileiro que fez ele sair d


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