50 tons de sexo aos 50

Envie para um(a) amigo(a) Imprimir Comentar A- A A+

Compartilhe:

Marcela Munhoz

Segundo estudo, mulheres de meia-idade atingem orgasmo com mais frequência. Foto:Divulgação
“(...) Ele empurra meus dois joelhos cama acima, me deixando de quatro, e me dá uma palmada forte. Antes que eu possa reagir, ele me penetra. Grito - por causa da palmada e da súbita investida dele, e gozo na mesma hora e torno a gozar de novo e de novo, desmontando embaixo dele enquanto ele continua a me penetrar deliciosamente (...)”
 
O trecho acima poderia muito bem ser a descrição de uma cena de filme pornô com pitada sadomasoquista disponível apenas em sites sensuais ou na prateleira proibida das videolocadoras que ainda resistem. Poderia, mas não é. Está aí para todo mundo ler. 
 
Literatura erótica sempre existiu, a peculiaridade do parágrafo em questão é que foi escrito por Erika Leonard James, norte-americana comum, esposa e mãe de dois filhos, que aos 48 anos ajudou a despertar a libido de mulheres ao redor do mundo com a trilogia recordista em vendas Cinquenta Tons de Cinza. 
 
O fenômeno literário carregado de fetichismo – em especial, o protagonista sedutor, controlador e milionário Christian Grey – não só continua servindo de pauta para os críticos como passou a fazer parte das rodas de conversas de mulheres de várias idades, inclusive, das mães de família, que trocam facilmente o rubor das bochechas pela vontade de ser Anastacia Stelee por um dia. E, por que não?
 
De acordo com estudo realizado pela Universidade de Hackensack, nos Estados Unidos, mulheres de meia-idade são mais ativas sexualmente e atingem o orgasmo com mais frequência do que as mais jovens. Para especialistas, a mulher entre os 40 e 50 anos sabe o que quer na cama e não têm medo de compartilhar seus desejos.
 
“Converso com as minhas amigas sobre sexo e uma das principais reclamações é que a maioria dos homens só pensa neles. O Sr.Grey não. Ele se preocupa com todos os detalhes, com as preliminares. As mulheres precisam mostrar o caminho do prazer para os seus companheiros”, acredita Jamili Assis, 49 anos, mãe e viúva. A dona-de-casa ficou sabendo dos livros por meio nas redes sociais e gostou tanto que comprou a coleção. “Antigamente a gente lia o Julia, que tinha um pouco de pimenta, mas não tanto.”
 
Para a terapeuta sexual Luciane Secco, a mulher moderna está diferente. “Tem mais acesso a informações, além de ser mais ativa, interessada e atraente.” A especialista observa também que elas prezam muito pela qualidade do ato. “As pacientes preferem um sexo bom ao praticado pelo Christian Grey. Mas, ao mesmo tempo, se permitem saber as novidades do mundo erótico”, completa. 
 
 
BUSCA POR PRAZER
Há pouco mais de 60 anos era incomum uma dona-de-casa pedir para realizar diferentes posições do kama sutra e inadmissível cogitar qualquer possibilidade de tentar sexo mais selvagem, regado a brinquedinhos e fetiches. Em geral, a relação estava ligada à procriação ou ao prazer, do homem. 
 
 “Até a década de 1940, as que falavam de sexo eram mal vistas e as mesmas tinham de aprender tudo com o marido. Os casais nem tiravam os pijamas. Discutir sobre orgasmo? Só a partir dos anos 1960, com o início da independência por causa da pílula anticoncepcional”, explica a historiadora Mary del Priore, autora do livro História Íntimas ¬– Sexualidade e Erotismo na História do Brasil (editora Planeta). “Se antes o sexo era proibido, hoje é obrigatório. Atualmente gozar tornou-se praticamente um dever das pessoas”, completa.
 
As mulheres estão buscando e trazendo novidades para a cama e exigindo dos maridos mais do que o chamado ‘sexo baunilha’, tradicional. “Alguns homens estão se sentindo acuados. Muitos não têm coragem de dizer que não sentem mais desejo”, observa a terapeuta sexual Luciane Secco.
 
Se por um lado os parceiros estão ficando assustados com tanto apetite, por outro os empresários estão aproveitando o novo cenário para investir em produtos para as mais novas consumidoras. Assim como o Cinquenta Tons de Cinza, os filmes brasileiros De Pernas para o Ar 1 e 2 também ajudaram a impulsionar a venda de produtos eróticos. A ousadia da protagonista Alice, vivida pela atriz Ingrid Guimarães, deu certo nas telonas e também na vida real. 
 
Finalmente, as mulheres estão visitando mais sexshops – e sem a desculpa de sacanear alguma amiga nos chás de cozinha. A opção de lojas on-line e as consultoras discretas, no maior estilo ‘vendedoras de produtos de beleza’, também acabaram com o abismo da teoria de que comprar produto erótico é sinônimo de promiscuidade.
 
De acordo com levantamento feito pela Associação Brasileira de Empresas do Mercado Erótico e Sensual, a porcentagem de mulheres que compram em sexshops é de 76%, já homens apenas 24%. Quando se trata de compras com as consultoras sensuais, o número feminino passa para 88%, contra 12% do público masculino. 
 
Paula Aguiar, presidente da Associação, acredita que os números refletem mudança no comportamento da sociedade. “Não é só fogo de palha por causa do livro e do filme, afinal, quantos já não foram lançados? Em outra época, talvez não fossem tão bem recebidos. A verdade é que a mulher moderna trabalha e quer se satisfazer.”
 
Prova disso é que na última edição da Erótika Fair, realizada no início do mês passado em São Paulo, foi fácil encontrar grupo de mulheres zanzando nos corredores em busca de prazer. “Estou sempre ligada nas novidades do mundo erótico, porque acredito que o sexo também precisa ser lúdico. Ainda bem que alguns mitos e paradigmas estão caindo por terra”, concluiu Maisa Bluemenfeld, 42 anos, casada.
 
Após assistir ao filme De Pernas para o Ar, Reny Feres, 47, foi procurar o tal Happy Rabit (vibrador dentro de um coelho de pelúcia). “É importante investir também na sexualidade.” O produto custa cerca de R$ 500 e foi um dos mais requisitados na feira, ao lado de anéis penianos, despertadores de calcinha, géis funcionais e itens de sadomasoquismo, como algemas, máscaras e chicotes.
 
Ana Paula Marques, 50, veio do inter


Diário do Grande ABC. Copyright © 1991- 2024. Todos os direitos reservados