Italiano até no nome

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Eliane de Souza

O mais requisitado dos chefs italianos, Roberto Ravioli comemora 25 anos de gastronomia.Fotos: Nário Barbosa

O bate-papo com chef Roberto Ravioli ocorre enquanto almoçamos no lindo La Madonina. O restaurante, que tem salão amplo, com garrafas de vinho, salas de vidro e um enorme arranjo com limões sicilianos, leva o nome da tela que ele trouxe da Itália. Ravioli chega esbaforido, se dizendo preocupado com os negócios, avisando que pretende passar uma temporada na Itália. Aos poucos se acalma e começa a falar do casamento dele, que ocorreu no ano passado. Com o chef, não existe maneira mais italiana de se fazer uma refeição, comendo com as mãos, ouvindo o tilintar das taças e dos talheres na porcelana, compartilhando vasilhas e com silêncio que só surge a cada garfada.

 
O mais requisitado chef italiano do Brasil completa 25 anos no mundo da culinária. Ele faz parte da Federacione Italiana Cuochi, da Associação da Boa Lembrança e ainda é curador do Programa Sabor São Paulo do Mercado Municipal da cidade. Ravioli leva aos quatro cantos do país o sabor de suas iguarias, inspiradas na culinária Toscana dos avós com quem aprendeu ainda criança a saborear e fazer  pratos típicos do norte da Itália.
 
Além do La Madonina, a culinária bastante rica e criativa também pode ser conferida em mais dois restaurantes de São Paulo, no Empório Ravióli, no Itaim Bibi, que é freqüentado por importantes empresários, intelectuais e artistas e no Restaurante Ravioli Cucina Casalinga, versão mais sofisticada, na badalada região da Vila Olímpia, que tem sempre suas mesas disputadas por uma elegante clientela da sociedade paulistana.  
 
O chef é fã da praticidade e disse que se fosse dono de uma pizzaria, serviria apenas quatro sabores: mozarela, calabresa, marguerita e quatro queijos. Mas não é o que ocorre no cardápio das duas casas, que contam com aproximadamente 80 pratos. Entre  as especialidades famosas estão o pão de linguiça calabresa,  o Pancotto (pão, azeite, alho, manjericão, tomate cozido no brodo), o Scodellini (de fígado de frango refogado com sálvia e de cogumelos portobello com camarão) e a Porchetta Romana (enrolado de porco recheado com presunto cru, lombo e ervas). 
 
Ravioli é presença marcante nos mais importantes eventos gastronômicos do país, tais como Prazeres da Mesa ao Vivo, Equipotel, no Mercado Municipal, seja cozinhando, dando aulas ou palestras de culinária. Entre as boas lembranças de sua trajetória gastronômica, o chef cita um Grande Prêmio de Fórmula 1 do Brasil, quando preparou um jantar especialmente em homenagem a Rubinho Barrichello e Michael Schumacher que foi memorável.  “Sou insistente. Me ofereci para fazer o jantar e foi o que ocorreu. Só desisto de algo quando realmente já esgotei todas as possibilidades”, conta. 
 
Também a pedido de um amigo que conheceu na região da Toscana, na Itália, cozinhou para o cantor Luciano Pavarotti, um jantar com o autêntico ravioli, uma das massas preferidas do tenor. Em visita ao Brasil, Pavarotti fez questão de experimentar o prato que o amigo criou em sua homenagem. Dessa iniciativa resultou o criativo “Gnocchi Per Pavarotti”, prato que está no cardápio de seus restaurantes, onde o chefe teve a idéia de unir a massa da focaccia italiana ao feijão branco e tomate. 
 
Em 2008, Ravioli foi convidado para ser uma das personalidades da Coleção Chefs Brasileiros, projeto de rede de cartões de crédito que valorizou o talento dos grandes chefs de cozinha como manifestação cultural do país.  Esse projeto teve início em 2006, quando quatro especialistas foram selecionados e convidados a produzir seu próprio livro, com a história de sua vida, de sua carreira gastronômica e receitas.  O livro “A cozinha de Roberto Ravioli”, foi produzido por  Martin Luz Comunicação, com texto do jornalista  Marcelo Musarra e fotos de Mikio Okamoto.
 
Roberto Ravióli coleciona participações na televisão. Em 2009 e 2011, participou do concurso Chef versus Chef do Programa Mais Você da TV Globo, quando seu prato recebeu a melhor votação de jurados e também do público em geral.  E em março de 2012 fez aparição no Big Brother Brasil da TV Globo quando apresentou pratos deliciosos ao vivo na telinha para um jantar especial para os participantes da casa.
 
Durante o almoço no La Madonina o chef fez questão de contar detalhes de sua terceira união, aos 60 anos, com Giovana, com quem vive há 10 anos. “Ela quis casar na igreja, e eu fiz todo o processo da anulação do casamento anterior. Porque no primeiro casamento eu casei praticamente como todo mundo casa: não sabe nem o que está fazendo. Eu me refiro ao lado religioso da cerimônia”, conta. Escolheu casar na Itália por causa dos seus pais. Fechou uma vinícola na Toscana e convidou 50 amigos brasileiros. A festa começou às 11h da manhã e foi até às 2h da madrugada seguinte. “Foram 13 horas de casamento. Parou a cidadezinha de Monteriggioni”, lembra da cerimônia que ocorreu em setembro de 2012. 
 
Ravióli passa o verão na Itália todos os anos e deixa escapar que poderia passar uma temporada maior no Hemisfério Norte. “Sou um agradecido ao Brasil. Tudo o que tenho foi este país que me deu. Seria uma falta de reconhecimento com tudo e com todos se fosse morar fora, devo tudo a meus clientes. Mas canso da forma da educação e de como a coisa acontece no Brasil. Não ter escola, moradia, segurança, hospitais, deixa a gente desanimado”, conta. Católico, acredita que se todos seguissem os ensinamentos cristãos e fizessem sua parte viver seria mais fácil. 
 
Se há algo de bom que aprendeu e gostar de dividir é viver com simplicidade. O chef italiano mais requisitado do Brasil não se intimida em ligar para o disk pizza aos finais de semana, comer comida japonesa, pelo menos, uma vez por semana e nunca visitar outros restaurantes italianos. Tem quatro camisas favoritas e não se importa de repetir as roupas. Também conta que já devolveu  um carro de luxo quando os filhos o criticaram  pela ostentação . “Meus filhos são simples como eu. Disse que não iria mais pagar motorista para eles. Disseram que não teria problema, porque vão para a faculdade de metrô ou de carona”. Além de simplicidade, outra caracterí


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