Amor demais

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Eliane de Souza

Neuzeli é fundadora da insituição assistencial Meimei.

O desejo de proporcionar às crianças carentes sentimentos intrínsecos a de uma família motiva uma legião de voluntárias no Grande ABC. Uma verdadeira entrega dos sentimentos mais nobres é o grande fator responsável pelo sorriso de centenas de crianças carentes, órfãs ou em situação de risco em instituições assistenciais. Conheça história de mulheres que dividem a rotina familiar e profissional para entregar amor, carinho e atenção para crianças sem lar.

 
Herança de amor
A arquiteta Bárbara Andréa Pereira Cuzziol, de Santo André, 41 anos, é voluntária desde 1986. Ela divide a atenção com o marido e os dois filhos com cuidados com as crianças da Instituição Assistencial Meimei, de São Bernardo. Seu interesse pelo trabalho social veio do exemplo da mãe, também voluntária. Desde 2003, trabalha também como voluntária na Associação São Luiz, em São Bernardo. Lá são atendidas crianças de até 15 anos que estão abrigadas por determinação judicial.
 
Trabalho com crianças desde os 15 anos de idade. Agora está se graduando em pedagogia e pretende trabalhar como professora. Na IAM o trabalho é realizados aos sábados com aproximadamente 20 famílias das comunidades carentes da região. A rotina se resume a recepcioná-los com um lanche, depois as crianças são direcionadas às salas de aulas e os pais às palestras. O objetivo desta tarefa é reforçar os vínculos afetivos familiares e de convivência social. As aulas abordam temas relacionados aos valores morais, ética e cidadania. “Somos em vários voluntários e nossa equipe é muito unida e comprometida com o trabalho”.
 
No São Luiz, Bárbara atua três vezes por semana. “Lá a cada dia é uma surpresa e uma necessidade diferente à nossa espera. Nossas atribuições enquanto voluntárias não são muito diferentes das atividades múltiplas que uma mãe desenvolve”, explica. Isso inclui trocar fralda, proporcionar estímulos, contar histórias, cortar unhas, cantar, ajudar na lição de casa, brincar, levar ao médico, levar ao parque, alimentar, dar banho etc. A voluntária explica que é necessário organizar e definir horários, pois não adianta ser voluntário e se esquecer das responsabilidades com os familiares. 
 
A arquiteta conta que a maior dificuldade que encontra no trabalho voluntário no abrigo é a de não me apegar demais às crianças, já que muitas delas vão embora sem que tenha tempo para se despedir. As principais necessidades das instituições assistenciais dizem respeito primeiramente aos recursos financeiros. Quem não tem tempo pode colaborar com alguma instituição idônea. Algumas instituições aceitam doações inclusive de móveis, roupas e utensílios que serão vendidos a preços módicos e revertidos em seu benefício.
 
 
Carinho recompensando
 
Fundadora da Meimei Educação e Assistência, Neuzeli tem o desafio de profissionalizar o trabalho da entidade de Santo André. “Meu interesse pelo trabalho social vem da crença de que não estou aqui neste planeta a passeio. Sinto que posso fazer uma diferença no mundo, na medida em que procuro dar um propósito maior à minha existência. Acredito que estou aqui para aprender e evoluir e aprendi que o caminho mais eficaz nesse sentido é o trabalho”. Para dar conta da missão, incluiu até os filhos na programação. Atuando atualmente como autônoma, tem mais flexibilidade para dedicar parte da semana ao trabalho voluntário.
 
Neuzeli torce por um dia com 48 horas. “Sinto falta de ter mais pessoas trabalhando conosco. Precisamos que mais pessoas se interessem em ser voluntárias, pois há muito o que fazer”, convoca.
 
Desde 2010 a voluntária tem câncer de pulmão. Numa recidiva da doença, quanto fazia quimioterapia muito agressiva, se afastou da creche e a ausência foi percebida pelas crianças. “A coordenadora pedagógica disse que eu tava doente, mas que logo eu estaria de volta e uma menininha de 3 anos sugeriu que rezassem por mim. A partir daquele dia eles sempre se lembravam de pedir ao Papai do Céu que me curasse. Foi um momento extremamente emocionante e único que com certeza me fortaleceu. Nunca vou esquecer”, lembra.
 
O maior presente de Neuzeli é aprender a olhar além do umbigo e saber que cada um tem sempre algo a oferecer. “Quando nos disponibilizamos para o outro, acabamos sempre recebendo muito mais”.
 
 



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