Infertilidade

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Augusto Monteleone

Nos últimos 50 anos a sociedade sofreu profundos impactos na mudança da rotina dos casais. A inserção da mulher na atividade profissional alavancou o estilo de vida conjugal. A força de produção e o desenvolvimento patrimonial e de consumo cresceram. Associado a isto, ocorreu o aumento da longevidade da população. E a medicina reprodutiva incrementou várias soluções para o problema dos casais sem filhos, como as técnicas de estimulação da ovulação com drogas cada vez mais eficazes, e com menos efeitos colaterais; o tratamento do sêmen para melhoria do desempenho procriativo e o grande avanço da fertilização in vitro, diminuindo a complexidade do tratamento e tornando-o mais acessível. Nos Estados Unidos, cerca de 12% das mulheres recorrem a algum tipo de terapia de fertilidade.

 
Do ponto de vista reprodutivo, a mudança do estilo de vida tem impacto sensível, uma vez que o ápice da carreira é atingido após os 35 anos.   Os atrasos da união e da concepção tendem a causar problemas de difícil superação. Consideramos como infértil o casal que deseja procriar há mais de um ano, o que representa 20% dos casos.
Há tratamentos para diversos tipos de problema. Os mais comuns são distúrbios ovulatórios, como a síndrome dos ovários policísticos, que pode ser reparada através da regularização e estimulação da ovulação. A endometriose é outro transtorno comum na mulher moderna. O diagnóstico preciso se faz através de cirurgia. Mas a reparação pode não ser definitiva e o casal receber a indicação da fertilização in vitro. A íntima relação entre endometriose, infertilidade e o ritmo de vida deve-se ao fato de a atividade procriativa ser retardada, o que pode agravar o quadro, similar ao que ocorre nos casos de infecção pélvica, muitas vezes sem sintomas, mas que causam transtornos das trompas uterinas, levando à infertilidade. 
 
Do lado do homem, as alterações do sêmen e da concentração e movimentação dos espermatozoides podem ter origem desde o nascimento ou serem adquiridas durante a vida, pela atividade profissional, exposição a agentes agressores e desgaste biológico próprio do avançar da idade. De acordo com a gravidade, o tratamento poderá ser a inseminação intrauterina (quando os espermatozoides são inseminados no útero) ou a fertilização in vitro, que consiste na extração dos óvulos e a fecundação destes com espermatozoides do marido, dando origem aos embriões que serão colocados na mulher. Esta técnica tem altos índices de sucesso. 
 
O que vemos hoje é um grande número de mulheres retardando a formação familiar, comprometendo a função reprodutiva. A idade média das pacientes se aproxima dos 37 anos. Notadamente a partir dos 40, a queda da fertilidade é exponencial, levando muitas mulheres a congelar os óvulos com o objetivo de preservar sua função procriativa. Esta é uma atitude benéfica, mas que  precisa ser analisada de forma crítica, uma vez que os óvulos apresentarão desempenho do momento em que foram congelados, com as funções e os comprometimentos desta fase. A questão que se impõe é: se o tratamento for ineficaz, o que fazer a seguir? É imperativo que o congelamento de óvulos não seja visto como a solução do problema. Trata-se apenas de uma alternativa viável, com segurança questionável, que só é garantida quando o filho estiver seguro nos braços da mãe – o que, aliás, é a regra do sucesso dos tratamentos de infertilidade. 



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