Grande ABC de olho em Brasília

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Beto Silva

Prefeitos planejam buscar verbas na capital federal para cumprir promessas de campanha. Arte: Fernandes

O futuro do Grande ABC nos próximos quatro anos está nas mãos dos sete prefeitos que assumiram mandato em 1º de janeiro. Nenhum deles nasceu na cidade que irá comandar. Tiveram de expandir fronteiras e penetrar no município em que hoje exercem o cargo público mais importante. Poderia ser por ironia do destino, mas, por consequência da situação financeira que hoje se apresenta nos municípios locais, eles terão de, a partir de agora, transcender as barreiras da região para buscar verbas do governo federal. 

Mais do que isso, durante as campanhas eleitorais do ano passado prometeram transparência na gestão pública e bom trato ao dinheiro proveniente do cidadão por meio de impostos. Somente em 2013, serão nada menos do que R$ 9 bilhões, cujos investimentos estão sob responsabilidade de sete chefes de Executivo. Para se ter ideia da quantidade dos recursos, daria para comprar 360 mil carros populares. 
E as implicações de dinheiro público mal aplicado também serão motivo de preocupação para os sete políticos eleitos em outubro para governar Santo André, São Bernardo, São Caetano, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, pois o julgamento do Mensalão estabeleceu novo paradigma de cobrança popular frente à classe política. A sociedade, cada vez mais consciente, exige respeito com seu dinheiro e não tolera mal-feitos - para usar expressão da  presidente da República, Dilma Rousseff (PT), quando se refere à corrupção.
Por esses dois motivos – busca de verba para desenvolver programas, projetos e obras; e cuidado com a execução desses recursos –, os olhos do Grande ABC estarão voltados para Brasília neste quadriênio.
No caso do Mensalão, o Brasil assistiu ao vivo, pela televisão, ao maior julgamento da história do STF (Supremo Tribunal Federal). E nunca antes na história deste País (para usar expressão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva), foram condenados tantos políticos por irregularidades na função de suas atribuições e no uso da verba pública. Dos 38 réus, 28 foram condenados, inclusive à prisão e ao pagamento de severas multas.
O resultado desse processo é a teórica (porque ainda não há consequências práticas a partir do fim da ação judicial, que ainda está em trâmite) moralização da política. Simples: até o Mensalão, a classe política e a população em geral pensavam que os atos de corrupção eram invariavelmente impunes. Agora, essa premissa caiu por terra. Há, sim, punição para ilegalidades. 
Assim como ocorreu na implementação da Lei da Ficha Limpa no pleito de 2012, quatro dos 36 registros de candidatura a prefeito da região foram barrados pela norma. Mas nada tão emblemático quanto o julgamento do Mensalão. Que, inclusive, popularizou os nomes dos ministros do STF que estavam completamente fora do cotidiano das pessoas, como Joaquim Barbosa (relator do processo e primeiro negro a assumir a presidência da principal corte judiciária do País, em dezembro de 2012) e Ricardo Lewandowski (revisor). A corte ganhou tamanha notoriedade que Barbosa chegou a ser apontado pela mídia como possível candidato a presidente da República no ano que vem.
Já no caso da busca de verbas oriundas do Palácio do Planalto para a região, a depender das promessas e dos orçamentos das sete cidades, a evolução do Grande ABC estará dependente de Brasília. Apesar do crescimento acanhado do PIB (Produto Interno Bruto) em 2011, dinheiro não falta, já dizia o então presidente Lula, mesmo durante a crise internacional de 2008, que afetou parcialmente o Brasil. É só ter projetos. E eles foram amplamente divulgados na campanha eleitoral. Então, ao trabalho e a Brasília, prefeitos.
 
Grana apresentou um dos planos de governo mais ousados da região. Foto: Ricardo Trida
SANTO ANDRÉ 
No campo das propostas, um dos planos de governo mais ousados apresentados durante a eleição municipal de 2012 foi o do prefeito de Santo André, Carlos Grana (PT). E, claro, a concretização das promessas depende de liberação de recursos do Palácio do Planalto.
Mas isso não deve ser dificuldade para o metalúrgico que ingressou na classe sindical nos anos 1980, assim como a maioria dos companheiros. Engajado na política por meio do movimento religioso – integrou a Juventude Operária Católica –, começou a se relacionar com muitos jovens com as mesmas ideologias partidárias. Dentre eles, Miriam Belchior e Gilberto Carvalho, hoje ministros do Planejamento e da Secretaria-geral da Presidência, respectivamente.
Além disso, as portas de Brasília serão abertas a Carlos Grana por sua proximidade com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que vem desde os tempos de sindicalismo. Foi Lula o mentor da candidatura vitoriosa de Grana a deputado estadual em 2010 e quem o alçou como prefeiturável do PT, ainda em 2011, para garantir a unidade no partido, que estava rachado desde 2007, após as prévias que definiram Vanderlei Siraque candidato do partido ao Paço em 2008.
Com trânsito na Esplanada dos Ministérios garantido, resta a Grana elaborar projetos e programas para obter dinheiro do governo federal. E o otimismo é grande. A expectativa do núcleo duro do governo petista é de conseguir R$ 2 bilhões de Brasília para Santo André nos dois primeiros anos de gestão. O montante representa quase a totalidade do Orçamento municipal previsto para este ano, de R$ 2,4 bilhões. 
A atração desses recursos se torna ainda mais preponderante para uma boa gestão após anúncio, dia 7, de contingenciamento de 34% da previsão de receita, aperto equivalente a R$ 823,3 milhões. A medida foi tomada pelo déficit de R$ 72 milhões deixado pela administração anterior – R$ 13 milhões no caixa mais R$ 85 milhões de restos a pagar.  
“A expectativa é a melhor


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