Rio de braços abertos

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Kelly Zucatelli

Belas praias, de águas geladas e areias fervilhantes, por onde desfilam pessoas de todos os cantos do planeta. Nos calçadões, o inconfundível desenho da arquitetura em meio às formações rochosas não deixa dúvidas quanto ao destino: Rio de Janeiro, a “Cidade Maravilhosa, cheia de encantos mil”, como já dizia o hino carnavalesco de André Filho (1906-1974). Em suas vistas estonteantes, em que o morro debruça-se sobre bairros nobres como que a envolvê-los em um abraço redentor, descobre-se uma cidade que, a despeito dos altos índices de violência, não distingue classes sociais quando se fala em turismo. Que venham os luxos de Ipanema e Copacabana, mas também a simplicidade da Rocinha e do Complexo do Alemão.

Para revelar recantos ainda pouco conhecidos deste universo de múltiplas facetas, que promete atrair os holofotes do mundo com a Copa da Fifa em 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, a equipe da Dia-a-Dia convidou a socialite Narcisa Tamborindeguy e o gari Renato Sorriso – dois ícones da simpatia carioca – para percorrer as ruas do Rio e indicar seus cantinhos preferidos. Durante três dias, estes dois cariocas da gema e cidadãos do mundo, famosos por sua alegria contagiante, circularam por pontos  turísticos pouco explorados da capital fluminense para mostrar que, seja no morro ou nas rodas da high society, o Rio de Janeiro, fevereiro e março continua lindo. E de braços abertos para todos.
 
Sorriso mostra um Rio de Janeiro que poucos conhecem Foto: Tiago Silva
ETERNO SORRISO
Carioca de Madureira, o gari Renato Sorriso ficou mundialmente conhecido em 1997, quando as câmeras de TV o flagraram sambando com a vassoura enquanto varria a Marquês de Sapucaí após mais uma maratona de desfiles na apoteose do samba. Com sua alegria inata, ele arrancou aplausos da arquibancada e virou figura pop da noite para o dia. Participou até da honrosa cerimônia de encerramento da Olimpíada de Londres, no ano passado, dividindo o palco com celebridades do quilate de Pelé, Marisa Monte e Seu Jorge. Mas engana-se quem pensa que o sucesso lhe subiu à cabeça. Apesar dos eventos sociais e palestras de motivação que pontilham sua agenda, Sorriso (como gosta de ser chamado)  continua a varrer as ruas da cidade com seu uniforme laranja e sapato preto brilhoso. 
 
Foi nestes trajes que ele recebeu a equipe da Dia-a-Dia, às 9h, para um dia de andanças pela Cidade Maravilhosa. Como era de esperar, a escolha do primeiro lugar foi rápida: Marquês de Sapucaí. “Vamos para lá, pois é um dos locais que nenhum turista pode deixar de conhecer. É cenário onde todos se misturam, sem discriminação de raça ou classe social”, disse de pronto. Em poucos minutos, deu-se a largada à maratona. Na apoteose do samba, Sorriso se sente liberto, e chama a todos para explorar o lugar. Entre a alternância de passos largos com ensaiadas coreografias de pulinhos para chamar a atenção de quem passava, Sorriso apontou camarotes e lembrou as beldades que já pularam o Carnaval ali. Vez ou outra, teve de parar a explanação para tirar fotos com turistas de São Paulo, Maceió e Paraná. “Costumo dizer que a apoteose é um Brasil dentro do Brasil. Por aqui circulam pessoas inteligentes, assalariados e tantos outros que vêm para curtir um dos maiores espetáculos do mundo. Respeito muito este lugar, pois foi aqui que comecei minha história.”
 
E o dono da vassoura pública vai além: “Você sabia que aqui tem  museu e até escola para crianças? A comunidade no entorno da Praça da Apoteose aprendeu a cuidar do espaço e receber bem os visitantes. Quem não pode pagar caro por um convite para ver o Carnaval na Sapucaí pode assistir aos desfiles do alto das comunidades.” 
 
E engana-se quem pensa que a Sapucaí é ponto turístico somente na época do Carnaval. O sambódromo, de arquitetura assinada por Oscar Niemeyer – que morreu no dia 5 de dezembro, aos 104 anos, de infecção respiratória –, fica aberto diariamente, com entrada gratuita. E o passeio não se limita a andar pelos cerca de 700 metros de extensão da passarela. Também pode ser visitado o Museu do Samba, com entrada franca, de terça-feira a domingo, das 11h às 17h. 
Próximo destino: morro Santa Marta. “Se preparem! Ficarão surpresos com a bela paisagem que tem lá de cima”, disse o gari sorridente. A espera pelo bondinho gratuito dura pouco e a subida leva aproximadamente dez minutos. Durante o trajeto, as pessoas aproveitam para fotografar a beleza natural e conhecer um pouco da urbanização da comunidade, que foi a primeira do Rio a ser pacificada. 
 
“Mas a grande atração do Santa Marta ainda está por vir”, disseram moradores com ar receptivo aos turistas. A frase refere-se ao espaço em homenagem ao eterno Rei do Pop mundial Michael Jackson, que em 1996 gravou no topo do morro o clipe They Don´t Care About Us. Sorriso logo aponta a estátua de Jacko – frente à deslumbrante vista da Lagoa Rodrigo de Freitas, do Cristo Redentor, do Pão de Açúcar e da enseada de Botafogo – e a escultura do mito feita em azulejo na parede, assinada pelo pernambucano Romero Britto.  “Olha que passeio maravilhoso para fazer no Rio de Janeiro e que não custa nada! As pessoas criam preconceitos que não existem em relação aos morros. Não tem perigo”, frisou o gari. 
 
Hora de descer o Santa Marta. Quem optar pelo desafio de alcançar terra firme pelos 788 degraus encontrará pequenos comércios que oferecem refeições a R$ 10. “Todo primeiro sábado de cada mês, no espaço em homenagem a Michael Jackson, é realizada a Feijoada na Laje, que também custa R$ 10”, lembrou Sorriso.
É neste universo do morro, em que cada degrau descido dá oportunidade de conhecer novos modelos de moradias, que está a lojinha de suvenires de Maria Helena. Para ajudar a divulgar as peças que a moradora vende a preços módico, Sorriso entrou no estabelecimento e mostrou alguns artigos.  
 
Depois do mergulho profundo na vista exuberante do alto do Santa Marta, onde pudemos dividir o olhar entre as residências abastadas da Zona Sul e as terras pobres que Michael Jackson pisou, foi hora de mudar o rumo. Mas antes o gari lembrou que as comunidades do Alemão e da Rocinha também possuem infraestrutura e segurança suficientes para receber visitantes, que são monitorados por guias de turismo em passeios de bondinho e caminhadas para conhecer o


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