Lado a lado com Lázaro

Envie para um(a) amigo(a) Imprimir Comentar A- A A+

Compartilhe:

Raquel de Medeiros

Lázaro Ramos como Zé Maria na novela Lado a Lado Foto: João Cotta

Os grandes olhos amendoados emitem brilho intenso. É paixão. Pela vida, pelo cotidiano, pelo trabalho, e também reflexo de toda a energia que despende para lutar por suas convicções. Como em um ciclo, essa inspiração motiva Lázaro Ramos a continuar vivendo, se encantando, superando, criando e compondo novos personagens. 

No folhetim Lado a Lado, da Rede Globo, o ator dá vida a Zé Maria, personagem pelo qual se apaixonou de maneira muito especial. Foi a chance de atuar em um período histórico que ainda não havia sido explorado pela mídia: o Rio de Janeiro da República Velha, no início do século 20, quando a palavra de ordem do governo era trazer modernização a qualquer custo. “Com toda a liberdade que uma novela tem, Lado a Lado está conseguindo contar um pouco da história de um Brasil que muita gente não conhece. O que aconteceu naquele período talvez ainda exista hoje em dia. Nos inspira e faz pensar”, diz o ator. 
 
A historiadora da Globo Rosane Bardanachvili concorda. Para ela, as manifestações culturais que eram criminalizadas pelo Estado e alvo de preconceito social ajudaram a moldar a identidade do Rio de Janeiro e do Brasil de hoje. “Os negros, excluídos da sociedade e sem direito à cidadania, criaram, por meio da cultura, uma forma própria de inserção na sociedade”, declarou após a estreia.
 
E é nesse contexto que surge o personagem Zé Maria, homem apaixonado, destemido, que vai atrás do que é justo. E Lázaro tem semelhanças com o mocinho da trama das 18h. É dedicado a causas sociais, como a Educação no País, o combate ao racismo, além do trabalho que desempenha com o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), de onde foi nomeado embaixador em 2009. 
 
Para discutir problemas que o afligem – assim como a maioria da população – Lázaro vai além da dramatização e comanda o programa Espelho no Canal Brasil. “Acho que (no quadro de entrevistas) a minha voz é mais escutada. Como ator, você se apaixona pelo sonho de outra pessoa e o Espelho é o meu sonho.” Entre seus convidados, destaca a participação de Tom Zé. “Sou um admirador dele.” E agora encara o grande desafio de levar a atriz Fernanda Montenegro para a frente das câmeras.
Lázaro se sente mais à vontade no papel de entrevistador do que de entrevistado. Sincero, confessa que nem sempre sabe o que dizer aos incansáveis jornalistas. “Tem coisa que você não sabe responder. Acham que a gente tem que ter opinião sobre tudo, e não tem. Como entrevistador, o meu programa permite fazer um bate-papo. Não sou jornalista de formação. Então, é o Lázaro falando. E de conversar eu gosto.”
 
A Educação é para ele um dos temas que mais o incomodam e que faz questão de abordar diversas vezes no Espelho. “Não entendo como não é prioridade no País. Isso é absurdo, porque as grandes transformações no mundo, sejam avanços tecnológicos, política, tudo vem através da Educação.” 
Ser ator e apresentador é pouco para ele, que vai além. Lázaro também escreve e dá os primeiros passos como diretor. Dirigiu a peça Namíbia, Não! no fim de 2011 e é autor do livro infantil A Velha Sentada e da peça As Paparutas, que tem previsão para reestrear em fevereiro, em São Paulo. A história gira em torno de uma festa popular da ilha de Pati, no interior da Bahia, berço de sua família.  O ator acredita que a aventura no universo infantil pode ganhar nova inspiração depois da chegada do filho, João Vicente. “As peças e o livro que escrevi foram antes de ser pai. Agora, estou curioso para saber como será meu olhar.”
 
FAMÍLIA
Além da carreira e das causas sociais, Lázaro tem a mulher (a atriz Taís Araújo) e o filho João Vicente como grandes prioridades. O relacionamento, que perdura por quase uma década, não é construído em base passional e tresloucada – características típicas dos amores impossíveis da literatura – mas por um amor palpável e real, que exige compreensão mútua, amizade e cuidados no cotidiano. “Separação é coisa muito fácil hoje em dia. Procuro demonstrar meu amor diariamente. A gente se cuida muito. Acredito que nosso filho é uma demonstração disso tudo: uma comemoração desse nosso amor.”
 
O cuidado mútuo reflete-se no interesse pelo trabalho um do outro. Afinal, os dois estão na mesma profissão e passam por desafios parecidos. “Temos parceria profissional. Fazemos um tipo de avaliação do trabalho do outro, mas existe o lado marido e o lado esposa, que exigem mais um ombro de incentivo do que crítico, porque crítica já tem demais pelo mundo.” A paternidade foi acontecimento natural, já que estavam casados e constituir família era um caminho que os dois buscavam. O grande desafio, no entanto, acontece agora. “É uma grande responsabilidade ter nas mãos o crescimento de outro ser.”
 
Parceria com Camila Pitanga em Insensato Coração Foto: Estevam Avelar/Globo
AMIGOS 
Para quem pensa que não há amizade verdadeira no concorrido mundo das celebridades – rótulo que Lázaro não gosta de receber –, a boa notícia é que há. “Parece até coisa ingênua da minha parte, mas fiz muitos amigos.” Um dos seus mais queridos colegas é o ator Wagner Moura. E a parceria vem de longe, desde a adolescência. “Já fazia teatro. Ele também. Um dia, foi assistir ao meu espetáculo e falou que gostou do meu trabalho, que gostou muito de mim, se eu não queria ser amigo dele. E eu disse ‘tá bom’”, lembra aos risos. 
 
Quando Wagner foi chamado para a peça A Máquina, de João Falcão, indicou o parceiro para o trabalho. E de


Diário do Grande ABC. Copyright © 1991- 2024. Todos os direitos reservados