Viva a liberdade

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Miriam Gimenes

  Imagem de John Lennon registrada por Bob Gruen tocou fundo no coração de Supla  
Uma das últimas fotos tiradas de John Lennon (1940-1980) tocou fundo no coração de Supla. A imagem, captada em 1974 por Bob Gruen, conhecido como o fotógrafo do rock, mostra o ídolo em frente à Estátua da Liberdade fazendo o símbolo da paz. O eterno garoto de Liverpool protestava contra a censura que sofria por criticar publicamente a Guerra do Vietnã e a postura do então presidente norte-americano Richard Nixon (1913-1994), que ameaçava deportá-lo. Em visita à casa de Bob – de quem é amigo e teve a honra de ser registrado na foto que hoje adorna o hall de seu apartamento em São Paulo –, Supla viu a imagem original do ex-Beatle. Sentiu o que o pop star quis passar com o gesto e ficou marcado profundamente. “Aquilo me deu enorme sensação de liberdade.” Da experiência, compôs a música Viva Liberty, que poderia perfeitamente ser a trilha sonora de sua vida. 
 
O hit ocupa uma das 16 faixas do CD On My Way, o terceiro da banda Brothers of Brazil, liderada por Supla em conjunto com o irmão João Suplicy. No ano passado, o álbum integrou a lista dos dez mais vendidos da FNAC. Sinal de que Eduardo Smith de Vasconcelos Suplicy, 46 anos (sim, 46!), trilhou seu caminho – com o perdão do trocadilho com o nome do CD – de maneira certeira. Libertou-se do sobrenome (o sangue que corre em suas veias é uma mistura das quatrocentonas famílias Vasconcelos e Matarazzo), da vertente política (os pais, como todos sabem, seguem carreira pública) e da tranquilidade de quem teve infância diferente da maioria dos brasileiros. Levou e leva ao pé da letra o que diz o trecho da música já citada, cantada em inglês: Whatever you want, you can be. Viva Liberty (Tudo o que quiser, você pode ser. Viva a liberdade!). “Quer ser a Lady Gaga? Seja. Quer ser livre? Seja”, ordena. 
 
Supla levou isso a sério desde cedo. Quando assistiu, aos 14 anos, um show de David Bowie na Alemanha, não titubeou em copiar o penteado do camaleão do rock. E adorou o efeito do cabelo loiro (quase branco) arrepiado, que virou sua marca registrada. As roupas e acessórios também não passam despercebidos. No dia desta entrevista, ostentava um cinto cuja fivela era o rosto de Frankenstein e uma pulseira com apito de futebol pendurado. 
 
Com personalidade forte e peculiar, o roqueiro quebra estereótipos. Tanto que não se intimida, assim como Lennon, ao falar sobre qualquer assunto, inclusive política. Diz não ser petista como seus pais, que ajudaram a fundar o Partido dos Trabalhadores, e admite já ter dado chamada na própria mãe por não achar correta a busca dos políticos pelo poder em detrimento do bem-estar do povo. 
 
O músico, que passou a mais tenra infância nos Estados Unidos, adora usar termos em inglês em suas frases, mas nunca se esqueceu de suas raízes brasileiras. Gosta de morar no centro de São Paulo – em frente à Praça da República – para ficar mais perto das pessoas, as quais trata, “desde um mendigo até o presidente da República”, de igual para igual. E contrariando o que muitos pensam, não ouve apenas punk e rock. Caso contrário, não faria coro à bossa nova de seu irmão nas melodias. Lembra que desde pequeno sentava-se ao lado da avó para apreciar músicas de Jair Rodrigues e do maluco beleza Raul Seixas (1945-1989). Talvez tenha sido aí que surgiu o tal espírito de liberdade determinante em Supla. “Faça o que tu queres, pois é tudo da lei.”
 
REALITY SHOWS
Para quem tinha preconceito com reality shows, Supla se surpreendeu. Não só participou do primeiro programa brasileiro no formato – Casa dos Artistas, do SBT, em 2001 – como recentemente aceitou ser jurado do Ídolos, da Record. E gostou das experiências. Na primeira, protagonizou romance com ares de novela com a atriz Bárbara Paz, e ainda conquistou o ‘homem do baú’. “Quando entramos lá, pensei que éramos cobaias do Silvio Santos. E eu não estava nem aí para ele... Por isso que gostou de mim, porque todo mundo só fica puxando o saco dele, né?”, lembra. Não só Silvio gostou dele como o público também, garantindo-lhe o segundo lugar – Bárbara levou o prêmio. 
 
Além de trazer o cantor de volta à mídia, o reality continuou rendendo frutos a Supla. O CD que lançou em seguida, O Charada Brasileiro, vendeu cerca de 800 mil cópias e foi um divisor de águas em sua carreira, iniciada décadas antes, no grupo Metrópolis. Passada mais de uma década, ainda hoje as pessoas lembram de sua participação no reality. Por isso, também não ficou receoso em aceitar o convite recente da Record, embora estivesse em turnê pelos Estados Unidos – só neste ano, foram 90 shows em toda a América. Achou interessante ajudar pessoas que sonham em seguir carreira na música. “Não é fácil ser um artista. A vida é dura, muito dura”, analisa. 
 
Para Supla, todos que passaram pelo programa já são vencedores. “As pessoas me perguntam: ‘Você iria passar?’ Não sei, talvez sim, talvez não. Bob Dylan será que iria passar? Talvez não. É relativo. Tem várias formas de conseguir entrar para o mercado. E se você entrar pelo Ídolos, é uma forma justa e honesta. Não é fácil se expor desse jeito”, observa reflexivo, ressaltando que há muitos músicos bons trabalhando por aí, e não apenas os que estão na mídia. Cita como exemplos os rappers Crioulo e Emicida, assim como a banda brasileira Vanguart, que toca folk rock. “Agora, se quiser ser um cara comandado pela mídia, pode ir apenas pelas coisas que estão rolando no (Domingão do) Faustão”, acrescenta. 
 
Nário Barbosa
Cheio de adereços, cantor imprime seu estilo peculiar
POLÍTICA
Supla gosta de ouvir rádio. Às vezes, rende-se a uma emissora popular para escutar, por curiosidade, o que aparece de novidade no mercado. Acredita


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